Eu vou deixar que morra em mim,O desejo de amar teus olhos que são doces,Porque nada poderei te dar,Senão a mágoa de me veres eternamente exausto.No entanto, a tua presença é qualquer coisa como a luz e a vidaE eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto,E em minha voz, a tua vozNão te quero ter,Porque em meu ser tudo estaria terminado,Quero que só surjas em mim como a fé nos desesperadosPara que eu possa levar uma gota de orvalho nesta terra amaldiçoada,Que ficou sobre a minha carne como uma nódoa do passado.Eu deixarei,Tu irás e encostarás tua face em outra face,teus dedos enlaçarão outros dedos,E tu desabrocharás para a madrugada.Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu,Porque eu fui o grande íntimo da noite,Porque eu encostei a minha face na face da noite, e ouvi sua fala amorosa,Porque os meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço,E eu trouxe até a mim, a misteriosa essência do teu abandono desordenado.Eu ficarei só como os veleiros nos portos silenciososMas eu te possuirei mais do que ninguém, porque poderei partir.E todas as lamentações do mar, dos céus, das aves, das estrelas,Serão a tua voz ausente,A tua voz presente,A tua voz serenizada.
3 de janeiro de 2013
Ausência
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